Arte de saber esperar

29/10/2025
Margarida Leal

Tenho reparado na permanente agitação cada vez mais presente na nossa geração. Somos acelerados: a nossa mente não para por um segundo durante o dia inteiro. Acredito que isso se relacione muito com os estímulos permanentes que recebemos.



Cada vez mais as pessoas se queixam de défice de atenção. Parece que já não somos capazes de nos concentrar numa única tarefa. Se estamos a ver um filme, estamos a mexer no telemóvel ao mesmo tempo; se queremos ler um livro, não conseguimos manter a atenção até ao final da página, ou até saltamos frases para chegarmos mais rápido ao final. As próprias redes sociais estão construídas de acordo com este modelo de estimulação rápida e intermitente: os vídeos são cada vez mais curtos, passamos para o próximo automaticamente, já ninguém vê nada que tenha princípio, meio e fim.

Reparem numa fila em qualquer estabelecimento. Quantas pessoas estão verdadeiramente à espera? Simplesmente a observar o ambiente, a analisar as pessoas ao redor, ou até eventualmente a fazer conversa de circunstância com as pessoas à volta? Se houver alguém, serão certamente os mais velhos, que cresceram de outra forma e sempre tiveram a sua rotina sem o stress e a estimulação permanentes que nós, feliz ou infelizmente, com as suas vantagens e desvantagens, tivemos.

Tudo isso tem impacto nas relações interpessoais, na qualidade de vida, no sucesso profissional e, acima de tudo, na saúde. Eu estou a alterar pequenas coisas no quotidiano para reeducar o meu cérebro, fazer pequenos esforços para reaprender a esperar. Reparo quando estou a cometer erros e paro imediatamente. Afinal, todos somos detentores de vontade e bom senso.