Hipo estava, como de costume, a passear debaixo de água no lago Nakuru, com a cabeça meio submersa e as orelhas de fora, quando ouviu um som que o deixou paralisado.
– Que animal está a fazer este barulho? – perguntou-se. – Encanta-me. Parece-se com... Não sei o que é que parece, mas sinto cócegas na barriga e aquece-me o coração.
Hipo saiu rapidamente para ir procurar a origem do som. O mais rápido que pode mover-se um hipopótamo de 1800 quilos.
Texto: José González Torices
Ilustrações: Fernando Noriega
Quando chegou à esplanada, pôde ver como pequenos humanos faziam o ruído, enquanto abriam a boca e mostravam todos os dentes.
– Rio à gargalhada – disse um deles, agarrado à barriga.
– Rir? – Hipo ficou surpreendido. – O que é rir? Eu quero rir, mas será que dói? «Escancarar» costuma doer.
Ele pensou durante algum tempo: «Como posso obter o riso?»
Primeiro, tentou abrir bem a boca, mostrando todos os dentes, como fazem os humanos. Depois, fez todo o tipo de caretas e ruídos, mas nenhum deles era de riso, nem o fazia vibrar minimamente.
A mandíbula começava a doer-lhe quando reparou que um crocodilo o observava atentamente. Pensou: «O crocodilo está sempre a mostrar os dentes, de certeza que sabe.»
Demorou algum tempo a aproximar-se, pois era um hipopótamo muito tímido e o crocodilo não parecia muito amigável.
– Olá, Sr. Crocodilo, pode ensinar-me a rir?
– Acaso tenho cara de quem sabe fazer isso? – grunhiu o crocodilo.
– Mas mostra os dentes e abre a mandíbula a toda a hora – murmurou Hipo.
– Porque tenho fome e sou feroz. Na verdade, estou a ficar com fome.
Hipo afastou-se rapidamente. Não tinha sido uma boa ideia, mas a quem mais poderia ele perguntar?
Estava a matutar nisto quando encontrou um flamingo pousado numa perna. Aproximou-se dele com cuidado.
– Olá, Sr. Flamingo. Desculpe tê-lo acordado. Estava a pensar se me poderia ensinar a rir.
O flamingo abriu bem o bico e... bocejou… Não tinha um único dente.
– Rir? Acho que ouvi uma coisa assim das hienas que vivem do outro lado da esplanada.
Hipo não gostava de se afastar muito do seu lago. Mas achou que o riso valia o esforço.
Apesar do seu peso, caminhava muito depressa, como todos os da sua espécie. Em pouco tempo, encontrou as hienas.
– Olhem, um cavalo-do-rio. Corram, meninas, corram pelas vossas vidas! Mas não entrem em pânico.
As hienas correram como loucas em todas as direções. Algumas delas chocavam com outras. Ao fazê-lo, abriam a boca e riam-se, mas não pareciam felizes.
Hipo não entendia nada. Aquele não era, certamente, o riso que procurava. Não lhe produzia cócegas na barriga nem lhe aquecia o coração.
– Podem parar com isso? – gritou. – Eu só vim aqui para que me ensinassem a rir.
Ele sabia que os hipopótamos não tinham boa reputação entre os outros animais nem entre os humanos, mas não queria magoar ninguém.
Uma hiena muito velha aproximou-se dele.
– Pregaste-nos um grande susto, cavalo-do-rio. Devias ter dito isso mais cedo. Nós não sabemos rir. Isto que fazemos é porque estamos nervosas. Penso que deves procurar humanos pequenos! São eles que riem melhor.
– Por acaso sabes se dói?
A velha hiena riu-se. Desta vez, Hipo não sabia se era dos nervos...
Pôs-se a caminho de regresso ao lago. Queria encontrar o riso, mas também estava um pouco preocupado em partir dali.
Que alívio quando voltou a mergulhar no seu lago.
De repente, ouviu-os muito perto dele. Meninos e meninas estavam a brincar dentro da água. Riam às gargalhadas, flutuavam, salpicavam-se mutuamente.
Aquilo sim era RIR. O riso que o fazia sentir-se bem.
Hipo tinha muita vontade de se juntar às crianças, mas não queria assustá-las.
A pequena Imani, que desconhecia os perigos dos hipopótamos, aproximou-se dele e salpicou-o, rindo.
Todas as crianças ficaram paralisadas, mas Hipo, sem entender porquê, começou a rir. E a menina ria ao ouvi-lo e os dois riam e riam.
Hipo tinha a boca bem aberta e mostrava todos os dentes. Por precaução, ele tocou a barriga para ver se se tinha partido, mas não, estava inteira e a única coisa que sentia ali era cócegas e calor no coração.
As outras crianças também se aproximaram para brincar com ele. Embora continuasse sem entender o que era «escancarar», naquele dia, ele descobriu uma coisa: que o riso é muito contagiante e melhor ainda quando partilhado com amigos.
Hipo também descobriu que tudo o que sentia no corpo não era por causa do riso, o que o fazia sentir assim se chamava FELICIDADE.