Profeta da Amazónia

Profeta da Amazónia

06/07/2022

O cardeal Hummes foi o primeiro presidente da Conferência Eclesial da Amazónia (Foto: REPAM)

O cardeal Claúdio Hummes faleceu no passado dia 4 de Julho, em São Paulo, Brasil. Era franciscano, foi profeta da Amazónia e uma figura marcante da Igreja católica no Brasil e na América Latina.

O Papa Francisco, no telegrama de pesar pela morte do cardeal Cláudio Hummes, recorda os «longos anos de seu dedicado e zeloso serviço, sempre pautado pelos valores evangélicos», e o seu compromisso «em anos recentes pela Igreja que caminha na Amazônia».

A Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) lembra, numa nota de pesar, que o cardeal Hummes «marcou a Igreja no Brasil com sua actuação, de forma particular durante o ministério episcopal, que soma quase cinco décadas».  

«Nos últimos anos, o seu empenho permitiu [dar] novo impulso à presença da Igreja na Amazónia, ao favorecer, por meio da Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM), maior articulação, escuta às dores e alegrias dos povos e o protagonismo das comunidades», refere o texto. Este envolvimento daquele que então já era arcebispo emérito de São Paulo «foi coroado com o Sínodo para Amazónia e a publicação da exortação apostólica Querida Amazónia», sublinha a CNBB.

E a nota dos bispos conclui: «A criação da Conferência Eclesial da Amazónia, da qual dom Cláudio esteve à frente até quando sua saúde permitiu, também revela o esforço para realizar os sonhos apontados pelo Papa Francisco para a região amazónica.»

O cardeal Hummes presidiu a celebração, em Outubro de 2019, em que os participantes do Sínodo para Amazónia fizeram memória e actualizaram o Pacto das Catacumbas, na catacumba de Santa Domitilia, em Roma (este acto teve a D. Hélder Câmara como um dos organizadores e foi realizado em 1965, nas vésperas da conclusão do Concílio Vaticano II). Em 2019 a declaração recebeu o nome de “Pacto das Catacumbas pela Casa Comum” e foi organizado por D. Erwin Kräutler, agora bispo emérito do Xingu. Com a declaração, os signatários (bispos, religiosos e leigos) reafirmaram a opção pelos pobres assumida pelos prelados da América Latina.

O cardeal Hummes foi uma voz crítica da ditadura militar, acompanhou a pastoral operária durante os anos de maior repressão e tornou-se um símbolo da igreja que opta pelos pobres, o que, no conclave de 2013, o terá levado a dizer ao cardeal Bergoglio a frase que levaria este, apesar de jesuíta, a escolher o nome de Francisco. «Trago sempre vivas na memória as palavras que D. Cláudio me disse no dia 13 de Março de 2013, pedindo-me que não me esquecesse dos pobres», afirma o Papa Francisco na nota de pesar.