Moçambique: contra a violência

Moçambique: contra a violência

05/01/2022

Cabo Delgado é palco, há mais de quatro anos, de um conflito que já provocou mais de 3100 mortes e mais de 817 mil deslocados (Foto: Lusa)

Os líderes religiosos da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, emitiram no passado dia 4 de Janeiro uma declaração conjunta para denunciar a crise pela violência terrorista na região, particularmente em Pemba.

«A província encontra-se numa crise humanitária profunda, causada pela violência terrorista, em uma regressão dos indicadores de desenvolvimento integral também agravada pelas consequências das medidas restritivas de prevenção contra a pandemia da Covid-19», refere o texto, divulgado pela agência Fides.

Os responsáveis religiosos rejeitam que sejam atribuídos «actos terroristas à religião muçulmana e qualquer afirmação que associe tais atos aos princípios do Islão» e repudiam e distanciam-se «dos actos e das pessoas que deturpam as doutrinas religiosas para justificarem qualquer tipo de violência».

Cabo Delgado é palco, há mais de quatro anos, de ataques de rebeldes armados, alguns dos quais associados ao autodenominado Estado Islâmico. O conflito já provocou mais de 3100 mortes e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades locais e organizações internacionais.

As comunidades religiosas mostram-se disponíveis para «colaborar com o governo, as instituições e organizações do bem dedicadas a causa do estabelecimento da Paz na Província de Cabo Delgado». «Declaramos a nossa forte união perante qualquer ameaça de rotura e o nosso unânime repúdio aos atos terroristas e extremistas, assim como o nosso compromisso para caminharmos lado a lado em prol da paz e da fraternidade», assinalam os responsáveis cristãos e muçulmanos.

A posição conjunta enumera vários «factores preocupantes» para a população, como «as desigualdades sociais que a província atesta historicamente, o elevado índice de analfabetismo, a crise de valores ético-morais e as polarizações étnicas e religiosas».

Os signatários apelam a uma visão positiva da religião, demarcando-se da violência e dos preconceitos, defendendo que a sociedade dialogue «de forma franca, aberta, honesta e inclusiva».
A declaração pede ainda que se difundam mensagens que «desencorajam a adesão ao extremismo e a quaisquer tipos de violência».

O texto refere ainda a necessidade de acompanhar os adolescentes e jovens que sofreram o impacto da violência, «para alcançar sua reconciliação e reinserção social».