Sudão do Sul: a «maldição» da riqueza

Sudão do Sul: a «maldição» da riqueza

15/12/2021

«O país tem campos petrolíferos, mas os lucros não chegam ao povo», denuncia D. Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba, Sudão do Sul. O país mais jovem do mundo continua a ser, também, um dos mais pobres. «Existem apenas algumas boas estradas… tudo é escasso. As pessoas buscam, de manhã à noite, por comida e água para beber. Este ano, a situação foi agravada por uma grande seca. Continuamos a debater-nos com os efeitos dos conflitos locais, assinala o prelado em entrevista à Fundação AIS.

D. Stephan Ameyu fala da «maldição» da riqueza quando se refere à pobreza extrema do povo do Sudão do Sul. O país tem vastos recursos naturais, mas a riqueza parece apenas beneficiar as elites. «Há alturas em que as riquezas provam ser uma maldição. O Sudão do Sul tem campos petrolíferos, mas os lucros não chegam ao povo. Foi iniciado um diálogo entre os bispos e o presidente e outras autoridades. Esperamos poder efectuar uma mudança de mentalidade através deste diálogo», sublinha.

Neste contexto, o papel mediador da Igreja Católica pode vir a revelar-se fundamental para uma mudança de mentalidade. «Aqueles que detém responsabilidades estão gradualmente a perceber que não é do seu interesse continuar a agir de forma irresponsável. Como Igreja, podemos torná-los mais conscientes da sua responsabilidade. O presidente Salva Kiir Mayradit disse-nos que não tenciona regressar à guerra. Espero que nos tenha dito a verdade», afirma o bispo.

A Igreja assume, igualmente, um papel chave no futuro do sudão do Sul, fomentando caminhos de reconciliação e diálogo. «Nós criamos departamentos separados para a justiça e paz em todas as dioceses. Tentamos educar as pessoas em unidade e colaboração», explica o arcebispo. E acrescenta que o problema «é a mentalidade tribal, ou o tribalismo, que destruiu o nosso tecido social». Nesse sentido, precisa, «estamos a trabalhar arduamente para conseguir uma mudança no nosso povo através da reconciliação e do diálogo para ajudar o povo a entender que somos todos irmãos e irmãs».

Este serviço da Igreja concretiza-se no empenho em áreas como a educação e a saúde. «A Igreja foi e é um líder nos sectores da educação e da saúde. Fazemos o nosso melhor para garantir que as pessoas tenham comida e água para beber. Tentamos encorajar as pessoas a cultivar para que possam cuidar de si mesmas. Estamos a ensinar as pessoas a serem confiantes e a defenderem os seus direitos», diz o bispo.

D. Stephan Ameyu explica que os cristãos «sofrem muito» no país. «Os nossos padres também estão a passar por muitas dificuldades. Nas paróquias apenas existem choupanas, sem electricidade ou água… Nos lugares onde não há igrejas, as pessoas reúnem-se para rezar à sombra das árvores. Mas as pessoas chegam em grande número, a fé é forte», conclui.