Francisco: «A Europa não pode ignorar o Mediterrâneo»

Francisco: «A Europa não pode ignorar o Mediterrâneo»

02/12/2021

Cerimónia de boas-vindas ao Papa Francisco à sua chegada ao Aeroporto Internacional de Larnaca, perto de Larnaca, Chipre, no dia 2 de Dezembro de 2021. O pontífice iniciou uma visita de três dias à ilha mediterrânica de Chipre (Foto: Lusa).

O Papa Francisco iniciou hoje, 2 de Dezembro, a 35ª viagem internacional do seu pontificado, que o leva ao Chipre e à Grécia, até 6 de Dezembro, incluindo um regresso ao campo de refugiados de Lesbos, cinco anos depois.

Francisco tinha referido, na mensagem de vídeo que enviou aos povos dos dois países antes da viagem: «A Europa não pode ignorar o Mediterrâneo». O papa falou da visita como uma peregrinação às fontes do cristianismo, da fraternidade e da humanidade, e lamentou: «Hoje o nosso mar, o Mediterrâneo, é um grande cemitério. Como peregrino às fontes da Humanidade, irei a Lesbos outra vez, convicto de que as fontes do viver em comum só florescerão de novo na fraternidade e integração: juntos. Não existe outra forma e irei até vós com esta visão».

Ao chegar à capital do Chipre, Francisco apresentou-se como «peregrino» e disse que o país, «encruzilhada de civilizações, traz em si a vocação inata ao encontro, favorecida pelo carácter acolhedor dos cipriotas». E recordou que do Chipre, «onde se encontram Europa e Oriente, começou a primeira grande inculturação do Evangelho no continente». Com profunda emoção percorro os passos dos grandes missionários das origens, em particular de São Paulo, São Barnabé e São Marcos», frisou o papa perante autoridades políticas e religiosas, representantes da sociedade civil e membros do corpo diplomático.  

Francisco aludiu ao Mediterrâneo, «infelizmente lugar de conflitos e tragédias humanas». «Na sua beleza profunda, é o ‘mare nostrum’, o mar de todos os povos que se banham nele para estar ligados, não divididos. Chipre, encruzilhada geográfica, histórica, cultural e religiosa, tem esta posição para implementar uma acção de paz. Que seja um estaleiro aberto de paz no Mediterrâneo», apelou.

A intervenção de Francisco decorreu após a cerimónia oficial de boas-vindas e a visita de cortesia ao presidente da República de Chipre, Nicos Anastasiades. No seu discuros, Francisco sublinhou, ainda, o impacto negativo da pandemia na actividade turística e as consequências da crise económico-financeira na «pérola» do Mediterrâneo.

«Neste período de retoma, porém, não há de ser a ânsia de recuperar o perdido que pode garantir um desenvolvimento sólido e duradouro, mas o empenho em promover a saúde da sociedade, particularmente através duma decidida luta à corrupção e às chagas que lesam a dignidade da pessoa; penso, por exemplo, no tráfico de seres humanos», acrescentou o papa.

O papa evocou, igualmente, a presença de muitos imigrantes no país, com a percentagem mais significativa entre os países da União Europeia, considerando «importante tutelar e promover todos os elementos da sociedade, de forma especial aqueles que são estatisticamente minoritárias».

A visita do papa ao Chipre acontece num momento em que, nos primeiros 10 meses deste ano, chegaram à ilha mais de 10 mil migrantes, a maioria deslocando-se do norte cipriota turco para procurar asilo no sul.

O papa terminou o seu discurso no Palácio Presidencial de Nicósia lembrando que «o continente europeu precisa de reconciliação e unidade, tem necessidade de coragem e ímpeto para seguir em frente. Pois não serão os muros do medo e os vetos ditados por interesses nacionalistas que ajudarão o seu progresso, nem a recuperação económica por si só poderá garantir a sua segurança e estabilidade».