Nicarágua sangra

Nicarágua sangra

06/07/2021

D. Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, durante a celebração na catedral no passado dia 4 de Julho (Foto: Arquidiócesis de Managua)

O cardeal da Nicarágua, D. Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, afirmou no passado domingo, 4 de Julho, que há pessoas no país que «querem tirar a força da Igreja», no meio da crise sociopolítica local, agravada por uma onda de detenções. O cardeal referia-se, em particular, aos quatro candidatos às eleições presidenciais (Cristiana Chamorro, Arturo Cruz, Félix Maradiaga y Juan Sebastián Chamorro García) previstas para o próximo 7 de Novembro, que foram presos pelo regime de Daniel Ortega em Junho passado. Além disso, foram postos em prisão domiciliária outras figuras destacadas da oposição.

«Hoje ouvimos, em muitos momentos, pessoas a atacar-nos, a atacar o Papa Francisco; querem, de uma forma ou de outra, diminuir a força da Igreja. Insultam-nos, somos perseguidos, caluniados, mas tudo isto cai num vazio, porque temos uma forte esperança e confiança no Senhor», acrescentou o cardeal Brenes durante a missa.

A Nicarágua celebrou no domingo a festa do "Sangue de Cristo", uma das celebrações com maior devoção popular. O Cardeal Brenes celebrou duas missas: na Catedral de Manágua e outra transmitida pela estação de televisão da arquidiocese. Na introdução à celebração eucarística afirmou que «todo o povo da Nicarágua se orgulha de ter a imagem do Sangue de Cristo, e nunca será destruído, porque está dentro dos nossos corações».

Há um ano, no dia 31 de Julho de 2020, um incêndio intencional devastou a capela na Catedral de Manágua onde se encontrava a histórica imagem do chamado “Sangue de Cristo”, um crucifixo de madeira que chegou à Nicarágua, procedente da Guatemala, em 4 de Julho de 1638. A imagem, uma das mais veneradas na Nicarágua, ficou severamente danificada. Na ocasião, o bispo auxiliar de Manágua, D. Silvio Báez, afirmou que a imagem calcinada do Sangue de Cristo «mostra hoje a dor do povo sofredor da Nicarágua que, certamente, ressuscitará».

A este ataque juntaram-se outros actos de vandalismo perpetrados nos dias anteriores contra igrejas católicas noutras cidades do país.

De acordo com a imprensa internacional, a Nicarágua está a viver uma onda de detenções politicamente motivadas, que até agora apenas afetou os líderes da oposição. Aqueles que se identificam como apoiantes do Presidente Daniel Ortega insistiram publicamente que até os bispos podem ser presos.

«Vivemos no meio de dificuldades, insultos, privações, perseguições, calúnias», reiterou o cardeal-arcebispo de Manágua. «Temos dificuldades, temos grandes problemas, temos os problemas da pandemia que nos afligem, temos os nossos problemas políticos, sociais, económicos, famílias que sofrem porque muitos dos seus familiares estão privados da sua liberdade», acrescentou, referindo-se aos presos políticos.

Também o bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez, na homilia do passado domingo, sublinhou o sofrimento que os nicaraguenses estão a sentir devido à repressão exercida pelo Estado e, igualmente, com a migração forçada, a prisão arbitrária, a pandemia, o desemprego, a falta de comida e a injustiça.

Numa nota publicada pela agência missionária Fides, assinala o bispo: «As nossas mentes e os nossos corações pensam e rezam, pelos milhares de migrantes que, especialmente nas últimas semanas, procuram um horizonte melhor e deixam as suas terras arriscando a vida para encontrar o que o nosso belo país não lhes ofereceu», disse o bispo. E acrescentou que «famílias inteiras atravessam o deserto da migração em caravanas de desamor». O prelado também sublinhou que «a Nicarágua está a sangrar do sofrimento dos prisioneiros, das famílias separadas pela migração forçada, da dor dos doentes da pandemia, da pobreza extrema».