Brasil: conflitos no campo

Brasil: conflitos no campo

09/06/2021

Em 2020, houve 2054 conflitos no campo brasileiro segundo os dados registados pela Comissão Pastoral da Terra (Foto: CPT)

A publicação anual “Conflitos no Campo Brasil 2020” reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, bem como indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais do campo, das águas e das florestas.

Desde o início do ano de 2020, refere o documento, a CPT acompanhou a trágica crise sanitária mundial, «com agravamento, no caso do Brasil, por conta do projecto político que temos em andamento». De acordo com os dados do Centro de Documentação da CPT - Dom Tomás Balduino, os dados gerais de conflitos no campo mostram que o número de ocorrências foi de 2054, um crescimento de 8% em relação a 2019, o maior número já registado pela CPT desde 1985. Além disso, o relatório afirma que o número de ocorrência de conflitos por terra foi 25% superior a 2019 e 57,6% a 2018. Os dados são «ainda mais assustadores quando analisados apenas os números referentes aos povos indígenas no Brasil que, nesse tipo de conflito, respondem por mais de 56% das famílias afectadas».

No caso das famílias cujos territórios foram invadidos, houve um aumento de 102,85% de 2019 para 2020. Mais de 71% das famílias vítimas dessas invasões são indígenas.

Os registos identificam como principais protagonistas da violência os fazendeiros, empresários, madeireiros e grileiros. Os principais tipos de violência em 2020 foram “invasão”, “grilagem” e “desmatamento ilegal”. Foram vitimadas por invasão 81 225 famílias, das quais 58 327 são indígenas (72%); 19 489 sofreram grilagem (37% indígenas); e 25 559, desmatamento ilegal (60% indígenas).

Segundo o relatório os confitos pela água em 2020 também foram demarcados pelos mesmos protagonistas históricos, as mineradoras internacionais, responsáveis por 39% das 350 ocorrências, que envolveram 56 292 famílias, cujas categorias mais afectadas foram os povos ribeirinhos (23% dos eventos), pescadores (21%) e indígenas (16%).

A CPT afirma o relatório referente a 2020 expressa o roteiro historicamente dado: injustiça fundiária, prevalência dos interesses do capital, violência, omissão/conivência do Estado e resistência dos povos e comunidades. Contudo, afirmam, foi um ano em que alguns actores tiveram que se adaptar frente a uma condicionante inesperada, a covid-19.