Peru: bispos pedem diálogo

Peru: bispos pedem diálogo

17/11/2020

Numa semana, entre violentos protestos, o Peru teve três presidentes (Foto: Lusa)

A Conferência Episcopal Peruana (CEP) expressou-se sobre a situação de crise política e social que se vive no país, e que se adensou com a destituição do presidente Martín Vizcarra na semana passada, quando o Congresso peruano afastou o chefe de Estado devido a «incapacidade moral permanente» baseada em suspeitas de corrupção que envolvem a construtora brasileira Odebrecht. Entretanto, o Congresso peruano escolheu, no passado 16 de Novembro, Francisco Sagasti para presidente interino, substituindo o chefe de Estado interino Manuel Merino, que apresentou a sua demissão cinco dias depois de assumir o cargo, pressionado pelas revoltas populares.

Os bispos fazem um apelo aos políticos para que escutem o povo e actuem pensando no bem do país. «É também urgente continuar e promover a luta contra todos os rostos da corrupção que revelou um cancro social que tem de ser definitivamente curado; portanto, não devemos parar. O empenho e a responsabilidade das autoridades devem reafirmar esta luta para alcançar um Peru mais transparente e mais justo».

A CEP apela ainda a todos os cidadãos e às autoridades para que prossigam a agenda política e sigam o calendário das próximas eleições presidenciais previstas para 2021. «O Peru precisa do esforço de cada um de nós para se consolidar como nação: o Estado de direito, a independência de poderes, a justiça, a legalidade, a liberdade, a governação e a institucionalidade democrática, valores sem os quais a construção de uma sociedade é enfraquecida ou destruída», lê-se no documento dos bispos.

«No contexto actual, temos de reforçar e priorizar os cuidados de saúde, a emergência económica e social que sobrecarrega a nossa pátria; é por isso que apelamos aos governantes e à classe política para que promovam empregos decentes, saúde e educação de qualidade para todos, especialmente para os pobres e os mais vulneráveis. É tempo de abdicar de interesses pessoais ou de grupo para promover o relançamento económico e construir caminhos de solidariedade, fraternidade e desenvolvimento integral. É hora de ouvir a população, e agir com o Peru no pensamento», escrevem os bispos.

A tensão política é forte no Peru, onde desde 2000, meia dúzia de ex-presidentes foram acusados de corrupção. Os três últimos chefes de Estados sucederam-se em menos de quatro anos.

O Peru é um dos países muito afectados pela pandemia. A covid-19 já registou 925 mil casos e causou 35 mil mortes.