Peru: pandemia atinge os migrantes

Peru: pandemia atinge os migrantes

27/10/2020

Venezuelanos fazem fila para entrar no Peru na fronteira do Norte do país, perto da cidade de Tumbes, 14 de Junho de 2019.  © ACNUR/Helene Caux

No Peru, onde os primeiros casos de covid-19 se registaram há 7 meses, 888 715 pessoas já foram infectadas com o novo coronavírus e 34 149 morreram devido à doença (dados do Ministério de Saúde do Peru).  A pandemia evidenciou o aumento da vulnerabilidade da população mais pobre, em particular as pessoas migrantes e refugiadas. A fome, o desemprego e a falta de acesso aos serviços de saúde têm afectado drasticamente a sua situação nos últimos meses.

O padre Nivaldo Feliciano Silva, secretário executivo da Pastoral da Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Peruana (CEP) refere que a economia do país «também sofreu um grave revés. No trimestre Abril-Junho deste ano, a população empregada diminuiu 39,6% (6 milhões 720 mil pessoas)». E recorda que «a maior crise migratória de todos os tempos está em curso. Basta pensar nos mais de 5 milhões de venezuelanos que deixaram o seu país em busca de melhor sorte em outro lugar». Destes, 862 mil chegaram ao Peru (Superintendencia de Migraciones, Janeiro de 2020). Até hoje, foram apresentados à Comissão Especial do Ministério das relações Exteriores 496 095 pedidos de concessão da condição de refugiado. «O nosso país ocupa o segundo lugar no mundo pelo número de residentes venezuelanos e o primeiro pelo número de requerentes de asilo da mesma nacionalidade», menciona o sacerdote.

O padre Nivaldo Feliciano refere que que no Peru, a maioria dos venezuelanos (90%) dedica-se ao comércio informal (e precário). Os trabalhadores quase nunca têm contrato, segurança social e cuidados de saúde adequados e, durante o período mais crítico, não têm conseguido trabalhar. «Vivem em arrendamento e várias pessoas no mesmo apartamento. Nos últimos tempos se registam despejos, especialmente nos últimos meses», sublinha durante uma entrevista concedida à Ancep (Agência de Imprensa Episcopal Peruana). «Os pedidos de alojamento estão parados, bem como toda a papelada administrativa que lhes diz respeito. A máquina burocrática retomou o trabalho lentamente em meados de Junho. E em todo caso em regime misto: metade online, metade presencialmente», explica o secretário executivo da Pastoral da Mobilidade Humana.

Nesta situação, a Igreja peruana e o organismo para os migrantes da CEP tem procurado ajudar na assistência humanitária, «mantendo uma linha directa com as Instituições e tendo sempre, como princípios orientadores da nossa acção, os quatro verbos tão caros ao Papa Francisco: acolher, proteger, promover e integrar». Os pedidos são, sobretudo, de alimentação, ajuda na realização de procedimentos burocráticos relativos à condição de refugiado, cuidados de saúde e aconselhamento jurídico», conclui o padre Nivaldo Feliciano Silva.