O grito da selva

O grito da selva

24/09/2020

No dia 22 de Setembro realizou-se um encontro da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica (que representa e mais de 3 milhões de habitantes indígenas que compõem mais de 500 povos originários deste bioma) para lançar o “Grito da Selva”. O evento teve como tema: “A Amazónia diante da sua pior crise: covid-19, incêndio, violências e mudanças climáticas”.

No encontro participou também a Rede Eclesial Panamazónica (REPAM), representada pelo cardeal Cláudio Hummes, presidente da organização.

No final do encontro foi apresentada uma Carta aberta aos chefes de Estado que participam na 75ª Assembleia Geral da ONU, intitulada “Na Amazónia, também não podemos respirar”. A missiva pede que as decisões a serem tomadas não sejam em vão e, principalmente, a que os povos nativos sejam consultados.

Na carta os povos indígenas descrevem a situação que estão a viver. A covid-19, os incêndios, a mineração, a indústria petroleira e outras ameaças estão a afectar terrivelmente a Amazónia e os povos que a habitam. «Estamos aqui, quase sem poder respirar devido à fumaça dos incêndios em nossas florestas ou pela intensidade da covid-19 em nossos corpos. Apesar disso, estamos fazendo todo o possível para conter simultaneamente o avanço do fogo, do vírus e das invasões, em uma batalha desigual para sobreviver e garantir a sobrevivência de toda a humanidade», denunciam.

Y os povos indígenas fazem um apelo aos líderes mundiais: «Pedimos que se comprometam a manter pelo menos 80% da Amazónia intacta e que nossos territórios sejam reconhecidos para que possamos salvaguardar pelo menos metade da terra na próxima década. Temos apenas 10 anos para reflorestar e, ao mesmo tempo, atingir o desmatamento zero. Será difícil, mas não impossível».

A Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica recorda que «diante de uma Amazónia em um ponto sem retorno e suas sérias implicações para o clima e a segurança alimentar global, exigimos responsabilidade, onde o discurso seja apoiado por acções concretas». E apontam algumas medidas fundamentais para a sobrevivência, nomeadamente as seguintes: «Precisamos reavivar o Acordo de Paris e evitar acordos comerciais extractivos, e que os bancos deixem de financiar projectos prejudiciais à Amazónia».