Os muitos vírus da África

Os muitos vírus da África

20/08/2020

Em Serra Leoa, neste período de pandemia, «outras doenças e a fome matam mais que a covid-19», disse Dom Natale Paganelli, administrador apostólico de Makeni, numa entrevista a VaticanNews. «O que mais preocupa, como está acontecendo em outros Estados africanos, é o impacto económico sobre uma população já pobre, que está lutando para ganhar o necessário para trazer comida para casa todos os dias», refere.

O prelado, missionário xaveriano italiano, está à frente da diocese de Makeni desde 2012; uma área rural, atormentada há uma década por um conflito entre rebeldes e forças governamentais, também conhecida pelo triste fenómeno das crianças-soldados.

Aqui e em toda Serra Leoa, até alguns anos atrás o ébola fez vítimas de forma implacável: pelo menos cinco mil pessoas. «Víamos pessoas ficarem doentes e caírem», conta D. Paganelli.

Também a malária aflige severamente o país: a cada ano morrem mil crianças menores de cinco anos e 40% dos pacientes visitados nos hospitais têm sintomas desta doença. «A população duvida do perigo da covid-19», revela o bispo, «as pessoas abandonaram os hospitais e vão aos médicos nativos para tratamento».

Além disso, estes dias os poucos médicos leoneses (apenas mil numa nação carente de infra-estruturas de saúde) estão em greve devido à falta de materiais de proteção pessoal, como luvas e máscaras. Eles exigem do governo o pagamento do bónus prometido por causa da pandemia e jamais obtido.

Desde o início da emergência declarada, até hoje, foram registados oficialmente 1959 casos positivos e 69 mortes, uma pequena proporção considerando os aproximadamente 7 900 000 habitantes do país.