Trabalho infantil e a crise da covid-19

Trabalho infantil e a crise da covid-19

12/06/2020

Comemora-se hoje, 12 de Junho, o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil. A data foi instituída pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2002, ano da apresentação do primeiro relatório global sobre o trabalho infantil na Conferência Internacional do Trabalho. Desde então, a OIT convoca a sociedade, os trabalhadores, os empregadores e os governos do mundo a mobilizarem-se e agregar esforços num movimento global para a eliminação do trabalho infantil.

Antes da crise da pandemia originada pelo novo coronavírus, 152 milhões de crianças eram exploradas pelo trabalho infantil (os dados mais recentes são de 2016). Nos últimos 20 anos, 94 milhões de crianças deixaram o circuito do trabalho infantil (eram 246 milhões no ano 2000),  mas a crise desencadeada pela covid-19 pode ameaçar essa conquista. «Como a pandemia causa estragos no rendimento familiar, sem apoio, muitas famílias podem recorrer ao trabalho infantil», afirmou o director-geral da OIT, Guy Ryder, referindo-se aos dados do relatório conjunto da OIT e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O receio destas instituições das Nações Unidas é que agora essa tendência de descida possa ser revertida, comprometendo a meta de se acabar com o trabalho infantil até ao final do próximo ano.

No contexto da pandemia, devido à redução dos ingressos e ao desemprego, as pessoas vulneráveis são mais proclives a recorrer ao trabalho infantil para subsistir. E um dos aspectos avançado como significativo para o avolumar deste risco é o encerramento das escolas, que as organizações da ONU estimam que «afectou mais de 90% do total de alunos matriculados ou cerca de 1,6 mil milhões de estudantes em todo o mundo», afirmou . Com «quase metade do mundo sem acesso à internet», o ensino à distância veio «deixar ainda mais para trás muitos alunos». Por isso mesmo, o estudo alerta para o facto de este encerramento «suscita muitas preocupações em relação à vulnerabilidade» das crianças, que podem ser levadas a abandonar a escola antes da idade legal, para entrarem no mercado de trabalho. E que mesmo as que ainda não têm idade legar para trabalhar vão tender a procurar empregos, sobretudo actividades «informais e domésticas onde enfrentam riscos graves».

A OIT sublinha a necessidade de abordar esta crise com um enfoque que inclua «toda a sociedade», baseado num diálogo social eficaz e a cooperação, para dar prioridade às necessidades das crianças vulneráveis durante a crise e a sua recuperação.

Na foto: Miajul, de 12 anos, examina resíduos plásticos perigosos em Dhaka, Bangladesh, para ajudar a sustentar a sua família durante a covid-19 (Foto:  UNICEF / UNI335716)