Esforços partilhados

Esforços partilhados

26/05/2020

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica, considera que «causa legítima perplexidade e escândalo» a notícia de que um banco privado tem destinados dois milhões de euros para premiar os membros executivos do seu conselho de administração (que se refere à atual situação do Novo Banco, sem referir diretamente o nome da instituição). A Comissão lembra que a sobrevivência desta instituição financeira «tem sido assegurada graças a avultados fundos estatais que acabam a onerar todos os contribuintes». Por isso, esses prémios aos gestores, ainda que previstos contratualmente e “devidos” pela fixação de objectivos atingidos, «implicam uma ordem de grandeza de tal modo elevada que choca pela disparidade face à média das retribuições do trabalho em Portugal», sublinha a CNJP no comunicado enviado à Além-Mar.
A CNJP alerta para esta situação e outras semelhantes, em matéria de política de retribuições ou de distribuição de dividendos, de que ficam excluídos os trabalhadores, «por bancos (também contemplados com excecionais benefícios estatais) ou outras empresas, contrastam flagrantemente com os esforços de solidariedade que a atual situação reclama».
O comunicado, sob o título "Esforços partilhados", sublinha, ainda, que «nem tudo o que é legal é legítimo» e recorda ser necessário «demonstrar que a responsabilidade social das empresas tem exigências de coerência e não pode confundir-se com um simples instrumento de promoção de imagem».
O organismo laical ligado à Conferência Episcopal Portuguesa recorda que «o nosso país, como o mundo inteiro, vê-se hoje confrontado com uma crise económica e social de uma gravidade sem precedentes». A crise actual «traduz-se, para muitos, em desemprego, perda total ou muito substancial de rendimentos e privação da satisfação de necessidades básicas, como a alimentação».
A CNJP lembra a frase do Papa Francisco, de que nesta crise «estamos todos no mesmo barco e ninguém se salva sozinho». E acrescenta que «a coesão social é necessária, hoje mais do que nunca. Só a partilha equitativa dos esforços que nos são exigidos garante essa coesão».